terça-feira, 30 de julho de 2013

Manutenção por tempo indeterminado...

Aos raros leitores deste blog - que surgiu simplesmente como um meio de transmitir conteúdo de aulas de filosofia – e àqueles que por ventura vierem a “esbarrar” por aqui, informo que o blog estará em “manutenção por tempo indeterminado”. Não pelo fato de que “desisti” de mantê-lo mas o contrário: decidi retomá-lo e dar vida nova a este espaço. O blog, que esteve parado desde de 2011 (puts!) terá seu conteúdo revisado e ampliado. Espero atender definitivamente a proposta de oferecer conteúdo, filmes, músicas, artigos e espaço para discussão. No entanto, o tempo não é proporcional a tamanha ambição... por isso, o blog será atualizado l e n t a m e n t e . . .
Mesmo assim, você ainda pode acessar as antigas publicações através dos marcadores. Obrigado e até +!!


segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

CONTEÚDO DE FILOSOFIA UEL

Caros alunos,
Este é um pequeno panorama dos conteúdos que serão cobrados no vestibular da UEL, mas serve para revisar praticamente todo o conteúdo visto durante este ano. Bom proveito!
Iury A. Pires
Programa de Filosofia da UEL
 

EIXO 1-A: Política

Temas: Democracia, cidadania, jusnaturalismo, contratualismo, poder.

Autores
Teoria
Aristóteles
Justiça e amizade: Para Aristóteles a “amizades” (philia) tem o sentido de camaradagem, fraternidade, que é resultante da semelhança de idéias e interesses. Morar na mesma cidade cria um sentimento de amizade, une as pessoas por estarem em um local comum. É, de certo modo, uma igualdade. Para assegurar esta igualdade existe a Justiça. Mas a justiça não significa dar a todos os mesmos direitos políticos, pois nem todos dispõem de atributos necessários ao governo. Por isso é justo dar a cada um o que lhe caba, e não o mesmo a todos, pois há diferenças entre as pessoas.
Quem é cidadão? Para Aristóteles, é preciso ter prudência para participar da política. Poucos tem isso. Aristóteles exclui da cidadania as mulheres, os escravos e os trabalhadores braçais. Os primeiros por serem “inferirores” e os últimos devido ao ofício braçal, que “embrutece a alma” e ocupa muito tempo.
As formas de Governo: Diferente de Platão, que elabora um modelo ideal de governo, Aristóteles diz haver vários tipos, segundo as características de cada polis. No entanto, determina um critério para qualificar os governos em bons, ou seja, que visam o interesse comum, e ruins, quando visam interesse particular de uma pessoa ou grupo.


Critério de Valor


Bons
Corrompidas
Critério
de
Número
Um
Monarquia
Tirania
Poucos
Aristocracia
Oligarquia
Muitos
Politéia
Democracia
Maquiavel
Maquiavel além do maquiavelismo: 1)“O Príncipe”: conquista e manutenção do poder. 2)“Comentário sobre as primeiras décadas de Tito Lívio’: estabilidade e instalação da República. No capítulo IX de O príncipe, Maquiavel esboça a idéia de consenso.
Maquiavel utiliza dois conceitos para tratar da ação do príncipe:
Virtú: É a capacidade de mobilizar os homens e mudar a história. (Força política)
Fortuna: É o acaso. Deve-se saber agir quando a ocasião for oportuna.
Nova moral: De acordo com as circunstâncias deve se agir refletindo sobre as conseqüências desta ação, visando os fins coletivos. Separa Ética de Política => Razão de Estado: não atende anseios ou condutas morais particulares; faz o que é melhor para conservar o Estado e o poder.
Utilitarista: A ciência política só tem sentido se propiciar o melhor exercício da arte política.
Jusnaturalismo e contratualismo
Jusnaturalismo: Direitos naturais do Homem
Contratualismo: Contrato social que funda a sociedade e o Estado.
Hobbes, Locke e Rousseau irão utilizar destes dois artifícios teóricos como base de suas argumentações. Porém, cada um dará um sentido diferentes aos mesmos termos. Foi a forma que encontraram para justificar de maneira lógica a existência do Estado. Em geral podemos separar as teorias em três etapas: Estado De Natureza, Contrato Social, Sociedade Civil. Além disto elaboram idéias sobre a extensão da liberdade e da igualdade, além da idéia de Natureza Humana.
Hobbes
Natureza Humana: o Homem é um ser egoísta e sem pudor. Não mede esforço para conseguir o que quer.
Estado de Natureza: todos são plenamente livres e tem por direito natural usufruir como bem entender dos recursos naturais de acordo com sua disposição e capacidade individual. Problema: sendo o Homem egoísta e ganancioso, o Estado de Natureza se transforma em Estado de Guerra, visto que os homens facilmente poderiam se agredir e matar para tomar do outro o que quer, ou mesmo se defender dos outros. “É a guerra de todos contra todos” onde o “homem é o lobo do homem”. Isto ocorre por falta de leis e de um poder maior que os obrigue a respeitar uns aos outros. Por medo, fazem um Pacto Social para estabelecer a ordem.
Pacto Social (ou Contrato Social): Estabelecido mutuamente onde todos entregam seu poder e sua liberdade nas mãos de um ente político, o Leviatã, que será o único com permissão de usar a violência para impor respeito.
Estado Civil: A paz e a integridade de todos são asseguradas devido as Leis e a Força do Leviatã, ente de Soberania política. A liberdade das pessoas é extremamente reduzida, porém, é a única forma de existir pacificamente.
Locke
Natureza Humana: o Homem é um ser pacífico e gregário
Estado de Natureza: todos são plenamente livres e tem por direitos naturais a vida, a liberdade e os bens que pode produzir com seu próprio esforço. É um Estado de paz. No entanto, ninguém pode assegurar que essa paz dure para sempre, portanto, é preciso uma garantia, por mínima que seja, para manter este estado de coisas.
Pacto Social (ou Contrato Social): Estabelecido mutuamente criando um governo que deve ter por objetivo assegurar os direitos naturais.
Estado Civil: o Estado Civil pauta-se nas leis estabelecidas no pacto que visam proteger os direitos naturais. Assim, o Estado deve interferir o mínimo possível na vida e na propriedade das pessoas, visto que estas coisas são propriedades, por direito, de cada um. Se um Governo não atende a isto, ou seja, se não protege ou fere algum direito natural, este governo deve ser destruído e criado outro no lugar.
Obs: Se todos tem direito a propriedade (bens, vida, liberdade), quem tem mais propriedade, tem mais direito. Locke oferece uma noção abstrata de igualdade quando diz que todos tem os mesmos direitos naturais, pois os bens materiais estão distribuídos de forma desigual, portanto, contraditoriamente a igualdade de direitos.

Rousseau
Natureza Humana: o Homem é um ser pacífico e gregário
Estado de Natureza: os homens viviam sadios, felizes e cuidando de sua própria subsistência até o momento em que se criou a propriedade privada. A partir daí, uns passaram a trabalhar para os outros, havendo miséria e escravidão. Esse pacto forjado na desigualdade é injusto e deve dar lugar a outro verdadeiramente legítimo.
Pacto Social (ou Contrato Social): O contrato social legítimo é pautado no consentimento unânime. Todos abdicam de sua liberdade para criar um corpo coletivo, um ente comum. Assim, ninguém estará perdendo nada, pois ao abrir mão da liberdade individual para criar leis coletivas e consentidas, todos tornam-se mutuamente livres. “a obediência à lei que se estatuiu a si mesma é liberdade”(Rousseau).
Estado Civil: o Governo é criado, portanto, como ente que executa as leis criadas pelo povo. O povo tem participação direta na política, ocupando a função de agente legislativo. Assim, o povo é detentor da soberania, pois sendo as leis expressão da vontade geral, todos obedecem a si mesmos e são livres.
Habermas
Sobre sua teoria discursiva, aplicada também à filosofia jurídica, pode ser considerada em prol da integração social e, como consequência, da democracia e da cidadania. Tal teoria coloca a possibilidade de resolução dos conflitos vigentes na sociedade não com uma simples solução, mas a melhor solução - aquela que resulta do consenso de todos os concernidos. (ver EIXO 1-B)
Sua maior relevância está, indubitavelmente, em pretender o fim da arbitrariedade e da coerção nas questões que circundam toda a comunidade, propondo uma participação mais ativa e igualitária de todos os cidadãos nos litígios que os envolvem e, concomitantemente, obter a tão almejada justiça. Essa forma defendida por Habermas é o agir comunicativo que se ramifica no discurso.

EIXO 1-B: Ética

Temas: Liberdade, justiça.

Autores
Teoria
Platão
Em A República, Platão preocupa-se em criar um governo justo. Para ele, o governo justo seria aquele que daria a cada pessoa um ofício segundo sua aptidão, sua virtude.
No mito da carverna , Platão descreve como o filósofo pode alcançar a virtude ao sair da caverna e contemplar O Bem. Assim, alcançar o bem esta relacionada a capacidade de compreender o bem. Só o filósofo atinge o nível mais alto de sabedoria, só a ele cabe a virtude maior da justiça e portanto lhe é reservada a função de governar. Outras virtudes menores caberão aos soldados e trabalhadores da república. Embora menores, são virtudes importantes para a sustentação da república.
Aristóteles
Discípulo de Paltão, Aristóteles também afirma que a virtude é alcançada com a reflexão, com a racionalidade. Para ele, está associada a busca da felicidade, que é alcançada através do controle racional das paixões e desejos.
Espinosa*
Baruch Spinoza ou Bento de Espinoza, foi um filósofo holandês, judeu, que viveu durante o século XVII (1632-1677)
Espinosa procurou estudar o comportamento moral, a fim de saber o que permite ou o que impede o exercício da liberdade.
Há duas concepções clássicas sobre a liberdade:
Determinismo=> que negam a liberdade, pois o homem estaria submetido a condições e forças externas ou internas que determinam sua conduta.
Livre-arbítrio=> que vêem no querer uma livre expressão de sua vontade, orientada pela razão.
Espinosa, numa teoria inovadora, irá dizer que não importa sabermos se somos livres ou determinados, mas como podemos exercer a liberdade a partir dos determinismos.
Para explicar isto, Espinosa elabora uma relação entre corpo e alma. Não há entre corpo e alma uma separação ou uma hierarquização, ou seja, a alma não domina o corpo e vice-versa. Os dois estão unidos e um é reflexo do outro. Se um está bem, o outro também estará.
Espinosa diz que todos temos uma força vital, que é uma potência natural de autoconcervação. Esta força vital é chamada de conatus e se expressa no corpo como apetite e na alma como desejo. A intensidade do conatus  depende da qualidade  de nossos apetites e desejos.
Paixões: o que determina nossos desejos são as paixões alegres e as paixões tristes. Segundo Espinosa, as paixões alegres são mais fortes que as paixões tristes. Cada uma gera desejos que influenciam o conatus. Ex:
Os desejos nascidos da alegria (amor, amizade, generosidade, benevolência, gratidão, etc) são mais forte porque aumentam nossa capacidade de agir, conhecer, desenvolver e aproxima as pessoas. Temos uma conduta ativa.
Os desejos nascidos da tristeza (inveja, ódio, medo, orgulho, ciúme, vingança, etc.) são mais fracos, pois impedem o crescimento, corrompem as relações e se orientam para as formas de exploração e destruição. Temos uma conduta passiva.
Mas os desejos não podem ser controlados pela razão. Apenas um desejo mais forte é capaz de superar outro desejo. Uma paixão triste só é superada com uma paixão alegre, que é mais forte.
Até aqui, poderíamos concluir que Espinosa é um determinista, pois são as paixões que determinam nossos desejos. Mas é aí que Espinosa nos surpreende: o caminho para a autonomia, a liberdade, é justamente compreender que as causas das paixões somos nós mesmos, e neste sentido, podemos então buscar sobrepor paixões alegres sobre as tristes.
Liberdade é autodeterminação, é autonomia: Somos autônomos quando o que acontece em nós é explicado pela nossa própria natureza, e não por causas externas.
Conclusão: Se a liberdade se encontra em um autoconhecimento, então, as noções morais baseadas no dever, no mérito, no pecado e no perdão, são impróprias.
Rousseau
Fundamenta a Ética no argumento jusnaturalista, ou seja, no princípio de que todo homem nasce com direitos naturais inalienáveis, como a vida e a liberdade. A conservação destes direitos ocorre por meio de leis criadas pelo povo, expressando a vontade geral. As leis são instrumento de liberdade, pois não se pode tornar prisioneiro da lei que criou para si próprio.
Kant
Fundamenta a Ética com base na razão. Diferente dos outros iluministas, Kant diz que a vontade humana é verdadeiramente moral quando regida por imperativos categóricos.
Imperativo categórico é assim chamado por ser autônomo, incondicionado, absoluto, voltado para a realização da Ação tendo em vista o dever.
Nas palavras de Kant: “Aja de tal modo que a máxima de sua ação possa sempre valer como princípio universal”; “Aja de tal modo que trate a humanidade, tanto na sua pessoa como na do outro, como fim e não apenas como meio.
Habermas
Para Habermas, a ética não pode se fundamentar em normas abstratas e universais, nem depende da subjetividade narcísica de cada um (crítica a Kant). Ela deve surgir do consenso do grupo, construída no diálogo em que todos podem colaborar igualmente, sem que haja pressões de poder político ou econômico.
Para que isto aconteça é preciso criar uma situação ideal de fala, por meio de uma ética do discurso, ou seja: uma situação onde todos podem falar e serem ouvidos e tenham critérios para validar os argumentos. Como todo têm o mesmo objetivo, chegarão a um consenso sobre as normas éticas. É a ação comunicativa, portanto, que cria a ética.

EIXO 2-A: Conhecimento, Ciência, Método.

Temas: Sensibilidade, empirismo, razão, racionalismo, verdade, método, ciência, crítica ao positivismo.

Autores
Teoria
Platão
Mito da Caverna: O conhecimento ocorre quando temos coragem de sair da caverna e enxergar a verdadeira realidade.

Mundo sensível (mutável, imperfeito): onde vivemos=> tudo que existe é uma derivação “imprecisa” da coisa verdadeira, que está no mundo das idéias.
Mundo das idéias (imutável, perfeito): onde está todas as coisas verdadeiras, essenciais.

O sentidos do corpo só servem para nos fazer lembrar da verdadeira essência das coisas, que estão no mundo das idéias.
Aristóteles
A teoria de Aristóteles se baseia em três distinções fundamentais:
Substância-essência-acidente; ato-potência; forma-matéria

Substância: “a coisa em si”, ou seja, enquanto para Platão uma abelha existe pois é derivada da idéia de abelha, para Aristóteles o conceito de abelha se deriva da síntese comparativa entre várias abelhas. Conclusão: a abelha é uma abelha, pois tem características essenciais que nos permite dizer que ela é uma abelha. A substância é, portanto, suporte dos atributos de um ser.
Essência: algo que, se faltasse, a substância não seria o que é.
Acidente: atributos que podem ou não ocorrer à substância.
Matéria: “aquilo de que é feito algo”. Mas não é como nós concebemos a matéria, na física, pois para Aristóteles matéria é algo indeterminado.
Forma: “Aquilo que faz com que uma coisa seja o que é”.
Todo ser é composto de matéria e forma. São princípios indissociáveis. Isto quer dizer que a matéria só existe em alguma forma, não há matéria sem forma.
Potência: capacidade de tornar-se outra coisa.
Ato: A ação, a coisa, aquilo que é, em um momento.
Movimento: Passagem da potência para o ato. Ex: a semente (em ato) é potencialmente uma árvore.
Mas nada se transforma sozinho: tudo que existe, dependeu de outro ser existente anterior para transformá-lo no que é.
Deus, Ato Puro: Se tudo que existe depende de um ser anterior, o que ou quem deu início a tudo? Deus... ele é ato puro, nada, nem ninguém o fez, mas ele fez todo o resto. Quem veio primeiro: o ovo ou galinha? Resposta: Deus.

Descartes
Racionalismo: Determinou que a razão é a única fonte do conhecimento.
Método: Dúvida metódica=> somente aquilo que não puder ser colocado em dúvida será verdadeiro. Como chegou a esta conclusão? Assim: Pensou em colocar a prova tudo aquilo que via e sabia: “duvido de tudo o que existe. Porém se duvido, é porque penso. Se penso, logo existo” (cogito, ergo sum). Determinou que esta é a primeira verdade indubitável (é preciso existir para pensar) e que tudo que fosse tão claro e exato quanto esta primeira verdade seria também verdadeiro.
Francis Bacon*
(1561-1626), apesar de ser destacar na afirmação do empirismo, esta escola de pensamento remonta a Roger Bacon (séc.XIII)
Em seu livro Novum Organum (Novo órgão) onde “órgão” é entendido como instrumento do pensamento, rejeita o lógica dedutiva de Aristóteles e apresenta a indução como método realmente válido. Assim, diz que só através da investigação e da experimentação se pode obter resultados verdadeiros. Delineia, portanto, o princípio básico do empirismo: a experiência sensível é a única fonte de conhecimento.
Seu lema “saber é poder” expressa o saber instrumental, isto é, construir conhecimento para melhorar a capacidade humana de dominar a natureza e dela tirar proveito.
Hume
Empirismo: Para Hume, o conteúdo da mente é fruto de percepções. As percepções são fruto de impressões (ouvir, ver, amar, odiar) e de idéias, considerada cópia das impressões.
O princípio de associação de idéias
O conhecimento é resultado de associação de idéias que transformam idéias simples em complexas.
Tipos de associação:
Semelhança. Ex: o retrato de um amigo remete a pensar no amigo, pois ambos são semelhantes.
Contigüidade. Ex: o ouro remete a pensar no amarelo, pois isto lhe é contíguo, ou seja, é atributo do ouro.
Causalidade. Ex: ver um ferimento lhe remete a pensar na dor, pois um é efeito do outro.
Mas para Hume a causalidade, ou seja, a idéia de conexão necessária entre um termo e outro, não é dado naturalmente. Julgamos que uma coisa é causa de outra pelo hábito, por ter observado a constância de ocorrências semelhantes. Supomos que um ferimento dói pois sempre sentimos dor quando nos machucamos, isto é um hábito: e se eu me cortar e não sentir dor? A suposição estará errada.
O limite do conhecimento
Se o conteúdo da mente é dado pela experiência, a razão encontra nela seu limite.
Exemplos: Idéia de Montanha de Ouro = Montanha + Ouro; Idéia de Anjo = Corpo humano + Asas
Kant
Seu método é o criticismo, pois colocará o racionalismo e o empirismo à prova, fazendo critica a ambos, superando-os.
O conhecimento é constituído por matéria e forma.
Para conhecer as coisas precisamos ter delas uma experiência (concordância com os empiristas). Mas esta experiência só se realiza porque a organizamos por formas da nossa sensibilidade (a priori), ou seja, anteriores a qualquer experiência e condição para que ela ocorra. Por exemplo: tudo que conhecemos organizamos a partir das formas a priori de espaço e tempo. Isto é uma condição racional para compreender a experiência sensível. (concordância com os racionalistas)
Mas o que conhecemos é o que realmente existe em si ou é apenas aquilo que conseguimos organizar pelo pensamento? Em outras palavras: o objeto que eu vejo é mesmo o que eu estou vendo ou é apenas o que eu consigo ver?
De acordo com Kant, conclui-se que: se o ato de conhecer depende de nossa capacidade a priori então não podemos conhecer o que as coisas são em si (noúmeno), mas apenas o que estas coisas parecem para nós (fenômeno).
A filosofia de Kant também é chamada idealista, pois apesar de afirmar que o conhecimento se dá pela experiência, esta só ocorre a partir de formas de pensar (idéias) contidas em nós.
Revolução Copernicana: Assim como Copérnico disse não ser o Sol que gira em torno da Terra, mas esta que gira em torno dele, também Kant afirma que o conhecimento não reflete o objeto mas é o próprio espírito que constrói o objeto de seu saber. Nesses sentido, Kant realizou uma revolução copernicana no campo da teoria do conhecimento.
Galileu*
Galileu, que viveu durante o auge do renascimento cultural, é considerado pai da ciência moderna, pois elabora um método que supera as deduções filosóficas clássicas, principalmente as de Aristóteles.
Seu método é indutivo-dedutivo, ou seja, ao passo que busca na experiência a fonte de seu conhecimento, procura descrever detalhadamente cada experiência e elaborar então hipóteses a partir das anotações. Com isso, passa não somente a responder por que as coisas acontecem, mas como acontecem.
Por outro lado, a cada hipótese que cria, busca confirmá-la com a experimentação. Portanto, o que dá validade científica aos processos intelectuais é que os resultados devem ser submetidos à comprovação.
Desta forma, Galileu comprova a teoria heliocêntrica de Copérnico e elabora os princípios que levariam Isaac Newton a afirmar as leis da gravidade e da inércia.
Karl Popper*
Popper se preocupa com a validade do conhecimento científico. No entanto, afirma que em vez de um cientista dedicar-se a buscar justificação para sua teoria, deveria preocupar-se em colocá-la à prova, isto é, pensar possíveis maneiras de demonstrar que sua própria teoria seria falsa, utilizando-se para isto da experiência. Assim, se a teoria resiste à refutação pela experiência, ela é confirmada, ou seja, é verdadeira.
Esta forma de verificar a validade de uma teoria pode ser chamada de princípio da refutabilidade empírica.

EIXO 2-B: Razão instrumental.

Temas: Ciência e técnica, razão instrumental, crítica e possibilidade de autonomia.

Autores
Teoria
Adorno e Horkheimer
Estes autores são os fundadores da corrente filosófica conhecida como Escola de Frankfurt ou Teoria Crítica.
Os filósofos desta escola de pensamento viveram uma fase que pode ser chamada como ressaca da razão pois afirmam que ninguém adere à razão inocentemente, ou seja, sem utilizar-se dela para seus interesses. Observando os efeitos dos avanços técnicos sobre a vida humana, concluem que a razão não é instrumento de libertação do homem, antes, é instrumento de dominação do homem pelo homem. (ver EIXO 3-B)
Criticam a razão instrumental, que é a ciência aliada a técnica, produzindo maquinas mais eficientes e que colaboram na exploração e dominação. O momento em que vivem demonstra bem isto: Segunda Guerra Mundial => nações como Alemanha, URSS, EUA e Inglaterra utilizam dos conhecimentos científicos para criar armas mais eficazes. É a ciência a serviço do capital.
Como então, o homem pode libertar-se deste meio perverso criado pela própria razão? Resposta: A emancipação do homem só pode ocorrer no âmbito individual, quando cada um, utilizando-se de sua capacidade crítica, conseguir livrar-se das “forças obscuras” que invadem esta mesma razão.
Habermas
Este autor pertenceu à Escola de Frankfurt. Porém, devido a divergências teóricas, foi expulso do grupo pelo seu criador, Theodor Adorno (visto anteriormente).
Teoria da ação comunicativa: Critica a reflexão solitária defendida pelos filósofos até então, dentre eles Adorno e Horkheimer. Propõe que a razão não seja monológica (feita solitariamente e sem respostas de outro sujeito) mas dialógica: os sujeitos, situados historicamente, utilizando-se da linguagem, estabelecem uma relação interpessoal, criando uma comunidade comunicativa.
Essa pluralidade de vozes, porém, não significa que todos irão dizer o que pensam, sem se preocupar se os outros irão, ou não, entender ou aceitar suas ideias. Habermas diz que para se construir conhecimento todos devem ter objetivos comuns e estabelecer critérios de validade dos discursos. Assim, pautados sobre os mesmos critérios, e sem sobreposição de um sujeito sobre outro, todos teriam voz e também escutariam, colaborando mutuamente para a construção do conhecimento. Esta situação hipotética é chamada de situação ideal de fala.
Com isso, Habermas resgata a possibilidade de utilizar a razão para “fins benéficos”, a partir de uma ética do discurso. (ver EIXO 1-B)

EIXO 3-A: Experiência Estética

Temas: Noção de beleza na Grécia antiga; o naturalismo grego.

Autores
Teoria
Platão e Aristóteles
Em primeiro lugar, Patão tenta definir o que é belo de forma objetiva. Para ele, o belo é algo em si, ou seja, tem sua existência ideal e tudo o que julgamos belo são coisas que se aproximam do conceito ideal de belo.
Os gregos tinham como conceito de experiência estética o naturalismo. O naturalismo consiste, basicamente, em colocar diante do observador uma semelhança convincente das aparências reais das coisas.
O naturalismo grego é fundado na idéia de mimesis, que na tradução literal seria “imitação”, mas o sentido mais correto seria “representação”, dado que para Platão as palavras “imitam” a realidade.
Para Aristóteles, a arte “imita” a natureza. Mas Aristóteles englobava todos os ofícios manuais, da agricultura às belas-artes, no conceito de arte. Para ele, a arte imitava a natureza pois assim como a arte é produto de uma “criação a partir do nada”, realizando uma passagem do “não-ser para o ser”, imita a natureza no ato de criar.
Também para Aristóteles, todo ofício manual e toda educação completavam o que a natureza não terminou.

EIXO 3-B: Indústria Cultural e Cultura de Massa

Temas: reprodutibilidade técnica da arte; cultura de massa.

Autores
Teoria
Adorno
Industria cultural é um termo cunhado por Theodor Adorno que traz uma crítica a razão instrumental, usada na organização das forças produtiva. Trata-se de uma crítica ao sistema capitalista levando o olhar para a produção de arte como mercadoria e como alienada.
Em meados do século XX, com o desenvolvimento tecnológico, que a princípio na formulação iluminista seria como a libertação do mundo da magia e do mito, para efetivar um pensamento racional fundado na ciência e na tecnologia, Adorno contesta tal formulação, pois ao invés de se libertar, o homem torna-se vítima de sua empreitada: o progresso e a dominação técnica.
A idéia de uma indústria cultural é que o sistema capitalista mecaniza o próprio homem até em seu momento de ócio, ou seja, lazer.  A fabricação de produtos para distração é que determina os gostos e hábitos dos homens. O momento que Adorno levanta tal crítica é de consolidação do cinema, ícone do desenvolvimento técnico no âmbito da arte. Lembrando que arte até então era algo contemplado por poucos e também de criação individual e peculiar.
Pensar o cinema como uma produção para as massas é pensar que a dominação do capitalismo assola também a arte, uma vez que a produção cinematográfica é a reprodução da produtividade industrial, ou seja, baseado na produção em larga escala.
Benjamin*
Em seu ensaio “A Obra de Arte na Época de sua Reprodutibilidade Técnica” Walter Benjamin reflete sobre os efeitos da reprodução técnica da arte. Antes, a obra de arte era algo único, no qual poucos tinham acesso, pois era preciso presenciar sua beleza. Benjamin destaca que a apreciação de uma obra de arte depende da interação do público com ela. Nisso, a obra de arte tem, então, uma aura: é o “aqui e agora” que a torna admirável, pois não pode ser reproduzida: ela é única.
Com o advento da foto, do rádio e do cinema, a obra de arte passou a ser amplamente reproduzida, ampliando o público que lhe tem acesso. Assim, a obra de arte perde seu lugar sagrado, restrito as elites. Perde também sua aura, pois não se tem mais o “aqui e agora” que a torna única: ela pode ser reproduzida em qualquer lugar.
Por outro lado, esse processo contém um germe positivo, na medida em que possibilita um outro relacionamento das massas com a arte, dotando-as de um instrumento eficaz de renovação das estruturas sociais. Trata-se de uma postura otimista, que foi criticada por parte de Adorno.

sábado, 16 de julho de 2011

AULAS 12 e 13 – Teoria do conhecimento na Idade Moderna: Racionalismo e Empirismo

A. A filosofia na Idade Moderna
  • Os filósofos da Idade Moderna apresentavam a preocupação de não enganar-se no que diz respeito a aquisição de conhecimento. A crítica é feita, sobretudo, aos equívocos cometidos pela filosofia medieval, impregnada de religiosidade.
  • A procura na maneira de evitar o erro faz surgir a principal característica do pensamento moderno: A questão do método.
  • Estes filósofos preocupam-se não somente com a questão do ser (metafísica) mas com outro problema: como conhecemos o ser (epistemologia).
  • Há certo realismo na filosofia deste período, pois não colocam em dúvida a existência do ser.
  • A atenção é transferida para o sujeito que conhece.
  • Duas corretes surgem tentando responder como se dá o processo de conhecimento: Racionalismo e Empirismo.

B. O Racionalismo de René Descartes.
  • Ponto de partida: busca de uma verdade primeira, que não possa ser posta em dúvida.
  • Assim, transforma a dúvida em método (dúvida metódica)
Cogito: o caminho da dúvida...
  • Duvido de todo que existe. Porém, se duvido, é porque penso; se penso, logo existo. (Cogito, ergo sum)
  • A conclusão se dá pela evidência lógica, racional, de que é preciso existir para pensar; e não pela percepção do mundo exterior – até mesmo de seu corpo.
  • Descartes constrói o racionalismo priorizando o sujeito, não o objeto.
  • A evidencia do ser pensante é uma verdade muito clara e distinta à razão. Por isso, deve ser uma verdade universal, base para se construir todo conhecimento. É a verdade primeira, indubitável.
  • Descartes admite assim, existir idéias inatas ao homem, próprias da capacidade de pensar.
  • O conhecimento se constrói a partir do uso de minha razão. Mas como posso saber que o que eu penso é equivalente ao que existe?
Deus
  • Idéia inata de Deus: ser perfeito; deve ter perfeição de existência; senão lhe faltaria algo para que fosse perfeito; portanto existe.
O mundo
  • Posso saber que o que penso é o que realmente existe posto que a idéia de perfeição me remete a Deus e  ele, por ser perfeito, não me enganaria. Assim, tudo que for tão claro e distinto a razão quanto “penso, logo existo” será também verdadeiro.
Conseqüências do cogito
  • Caráter originário do cogito: o sujeito pensante é o princípio de todas as evidências.
  • Caráter absoluto e universal da razão: a verdade só de alcança pelo uso da razão.
  • Dualismo psicofísico: o homem, ao contrario de Deus, é substância finita, tem corpo físico (res extensa), mas é também um ser pensante (res cogitam)

B. O Empirismo Inglês.
  • Crítica ao racionalismo. É contrário à ele: prioriza, portanto, a experiência sensível.
  • Tem início com Francis Bacon que sugere a experiência e a investigação como método de conhecimento.
John Locke
  • Idéias simples: constituídas a partir da experiência sensível, diz respeito a atributos próprios do objeto.
  • Idéias complexas: fruto de reflexão, porém, tem apenas a função prática de ordenar conceitos que são usados nas próximas experiências.
  • Sensação: modificação feita na mente através dos sentidos.
  • Reflexão: percepção que a alma tem daquilo que nela ocorre.
  • Na experiência percebemos qualidade primarias do objeto – que lhe são prórias, como solidez, número, movimento – e qualidades secundárias – que são dadas pelo sujeito, como cheiro, sabor, som.
  • Locke X Descartes => O 1º enfatiza o objeto e o 2º enfatiza o sujeito.
  • Críticas à Descartes:
    • Não existe idéia inata, todas as idéias são fornecidas pela experiência. “A mente é como uma lousa vazia”.
    • A idéia de Deus, por exemplo, não é a mesma e nem existe em todas as sociedades humanas.
David Hume
  • Não existe conhecimento fora da experiência.
  • Para Hume, o conteúdo da mente é fruto de percepções. As percepções são fruto de impressões (ouvir, ver, amar, odiar) e de idéias, considerada cópia das impressões.
O princípio de associação de idéias
  • O conhecimento é resultado de associação de idéias que transformam idéias simples em complexas.
  • Tipos de associação:
    • Semelhança. Ex: o retrato de um amigo remete a pensar no amigo, por semelhança.
    • Contigüidade. Ex: o ouro remete a pensar no amarelo, pois isto lhe é contíguo, ou seja, é atributo do ouro.
    • Causalidade. Ex: ver um ferimento lhe remete a pensar na dor, pois um é efeito do outro.
  • Mas para Hume a causalidade, ou seja, a idéia de conexão necessária entre um termo e outro, não é dado naturalmente. Julgamos que uma coisa é causa de outra pelo hábito, por ter observado a constância de ocorrências semelhantes.
O limite do conhecimento
  • Se o conteúdo da mente é dado pela experiência, a razão encontra nela seu limite.
  • Exemplos: Idéia de Montanha de Ouro = Montanha + Ouro; Idéia de Anjo = Corpo humano + Asas.
C. Conclusões
  • No século XVII os filósofos preocuparam-se com a questão do “conhecer”, ou seja, como o conhecimento se constrói? Tem limites? Tem regras?
  • Duas respostas:
    • Racionalismo: A razão do próprio homem é o que lhe permite alcançar as verdades universais
    • Empirismo: As idéias são simples cópias das sensações experimentadas pelo sujeito. Sem experiência não há idéia, portanto, não existe idéia inata.