A. Introdução.
“A verdadeira filosofia é reaprender a ver o mundo”
(Merleau-Ponty)
“Só sei que nada sei!”
(Sócrates)
· A vida de Sócrates:
o Seu conhecimento não é livresco.
o Seu conhecimento provém da experiência cotidiana.
o Não pretende ser um guia: guia-se pelo princípio de que nada sabe e constrói o conhecimento através da discussão.
o Sua forma de pensar questionadora desconstruía as verdades míticas da Grécia Antiga.
o Sócrates foi considerado “subversivo” porque “desnorteia”, “perturba” a ordem do conhecer e do fazer. Pelos costumes gregos, é condenado à morte.
B. A atitude filosófica.
· Sofistas -> Primeiros filósofos (Sophos: sábios)
o Pitágoras é o primeiro a usar o termo philos Sofia (amor ao conhecimento)
· Platão -> A primeira atitude filosófica deve ser o admirar-se.
· Kant -> “Não há filosofia que se possa aprender; só se pode aprender a filosofar”
· Paradoxo da atitude filosófica: partir da realidade existente, questioná-la, afastar-se dela para poder entendê-la.
C. A filosofia e a ciência.
· Platão elaborou uma ordem pela qual o homem começa a conhecer: parte da opinião (doxa) para a ciência (episteme).
· A partir de Galileu a ciência separa-se da filosofia e fragmenta-se em áreas do conhecimento com objeto de estudo e método próprios.
· A ciência ocupa-se de estudos particulares. A filosofia procura ver o conjunto, a totalidade. Por isso a filosofia tem uma função interdisciplinar.
· A filosofia serve como mecanismo de reflexãocrítica dos fundamentos de cada área do conhecimento.
· O físico ou o biólogo, por exemplo, não reflete sobre o que é ciência. Se o faz, está indagando a própria ação, e isto é filosofia.
· A filosofia não constata o observado apenas, vai além: questiona a realidade, discuti um ideal.
· Filosofar é dar sentido à experiência.
D. Processo de filosofar.
· Todos nós, filósofos ou não, entendemos o mundo de uma forma mais ou menos particular. Todos nós damos sentido às experiências que vivemos. Fazemos isto refletindo sobre nossas experiências.
o Quando a ação de refletir sobre as experiência vividas ganha um certo rigor, acaba por construir uma filosofia de vida.
o A filosofia de vida é uma forma de interpretar as experiências da vida, sejam elas passadas ou futuras. É uma forma de olhar o mundo e pensar como se deve agir no dia-a-dia.
· Exemplo: se um filósofo da educação pensa os fundamentos da pedagogia, os pais também pensam critérios para educar seus filhos.
· Agimos de acordo com a nossa filosofia de vida quando optamos por morar em uma casa ou em apartamento; ou então, quando optamos por um emprego com boa remuneração ou por outro que nos dá maior satisfação e prazer no trabalho.
E. A Filosofia propriamente dita.
· A filosofia surge quando o pensar é posto em causa, quando refletimos.
o Refletir é voltar atrás, retomar.
o A filosofia é reflexão => ela retoma o próprio pensamento: pensa o já pensado, coloca em questão o que já se conhece.
· O que diferencia a ação reflexiva comum da ação reflexiva feita pelo filósofo é o rigor com que ele faz esta ação: não retoma apenas, preocupa-se com a história do pensar, investiga problemas teóricos surgidos ao longo do tempo e as respostas dadas por diversos filósofos.
· Segundo Dermeval Saviani, a filosofia é radical, rigorosa e de conjunto.
o Radical: do latim, radix, que quer dizer raiz. A filosofia vai ao fundo e busca a base, o fundamento, os conceitos fundamentais.
o Rigorosa: investiga com rigor; leva ao máximo a reflexão para que possa extrair as noções fundamentais, os sentidos gerais dos conceitos. No processo, acaba por inventar novos conceitos.
o De conjunto: Sua reflexão põe em jogo todos os saberes, seu objeto é tudo e sua explicação pretende chegar ao todo, a totalidade.
F. Qual a “utilidade” da filosofia?
· Pra começar: o que entendemos por utilidade? Hoje em dia a resposta sem dúvida será aquilo que traz resultado imediato, ou seja, é útil tudo aquilo que eu posso usar e ter no mesmo instante o resultado que desejo.
· Bom, se isto é útil, então com certeza a filosofia é inútil, pois ela não traz resultados imediatos. Porém, isto não significa dizer que a filosofia é desnecessária.
· E qual é a necessidade da filosofia? Bom, é por meio da reflexão que o homem ganha outra dimensão: não é apenas um “ser prático”, é também um “ser pensante”. E pensa em tudo: pensa sobre o que faz, sobre o que já passou, sobre o que virá e pensa o próprio pensamento.
· É desta forma – pensando – que o homem não está fadado ao determinismo da sua condição natural de existência e pode, portanto, construir o seu destino.
· Por causa de sua característica questionadora, a filosofia sempre se depara com o poder: seja dos costumes, tradições, dos radicalismos religiosos e políticos, seja da própria ciência.
· Assim, a filosofia também serve para desnudar, revelar, trazer à tona tudo aquilo que esta encoberto pelo costume, pela convenção, pelo poder. A filosofia liberta.
· Filosofar, portanto, não é apenas uma questão de intelecto, é também questão de coragem. É preciso coragem para enfrentar as formas estagnadas de poder. Sócrates levou até o limite a ação filosófica e, por isso, pagou com a vida.
G. Filosofia, nem dogmatismo, nem ceticismo?
· O ceticismo é um pensamento que surgiu na filosofia e que busca a verdade absoluta, a certeza invariável. No entanto, o ceticismo conclui que pela variabilidade das coisas e suas transformações, é impossível alcançar a verdade absoluta. Além disto, quem conseguiria realizar tal façanha? Concluindo isto, põe fim a ação filosófica: para que buscar a verdade se nunca conseguiremos alcançá-la?
· De forma contrária, o dogmatismo é o pensamento que admite como verdade absoluta algumas conclusões e acaba por ignorar a variedade e transformação dos conceitos ao longo do tempo. Assim, o dogmatismo põe fim a ação filosófica, pois não retoma as primeiras conclusões para verificar se ainda são válidas dentro da nova realidade.
· Tanto o ceticismo quanto o dogmatismo são pensamentos estáticos. A filosofia, ao contrario: é movimento. É movimento pois o mundo é movimento e as certezas que temos agora deixam de existir com o passar do tempo pois novas idéias e valores surgem dando luz a novas e momentâneas certezas.
Nas palavras do filósofo alemão Jaspers: “fazer filosofia é estar a caminho; as perguntas em filosofia são mais essenciais que as respostas e cada resposta transforma-se numa nova pergunta”.
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